Vida(s) de Amor

Tive uma semana cheia de trabalho, confesso que anseio ter mais tempo para mim.... Adoro o que faço mas por vezes sinto que a minha busca me pede mais... (tantas vezes e, apesar de me entregar ao que faço ,tenho vontade de deixar tudo e partir para caminho incerto...).

No final do ano letivo anterior pedi para deixar de ser diretora de turma (já sou à bastantes anos e estava a terminar um ciclo de três anos com os mesmos alunos, era a altura certa),,. precisava de uma pausa porque o envolver-me nos problemas e no desejo de crescimento dos miúdos absorve-me, eu adoro poder contribuir para, de certa forma os ajudar, a SER (nas diferentes dimensões)... O pedido que fiz não foi aceite, segundo me disseram, pela confiança que tinham no meu trabalho (no meu entender qualquer um pode fazer a mesma coisa mas aceitei com humildade).

Para meu espanto, não só continuei com dt como me deram uma turma que tem sido um desafio diário, de uma heterogeneidade incrível, casos muito difíceis... situações que me chegam a tirar o sono. 
Recebi um aluno que veio de novo, é um miúdo especial (tenho nesta turma três alunos de necessidades especiais com tudo o que isso implica) mas este menino é de uma docilidade que me desarma, tem graves dificuldades de relacionamento e cognitivas e de aprendizagem, pouco acompanha a aula e tem movimentos repetitivos constantes, tem um quadro de autismo ... tem sido preocupante. Infelizmente vejo actuações que me desagradam porque para mim o mais importante é sentir que ele está bem...   criou comigo não uma relação de dependência mas de um respeito que sempre que tem uma crise lá sou eu chamada para o acalmar... é um menino que me olha nos olhos e sempre tem que me dar um abraço e fica triste quando sente que me está a preocupar por algo que fez. Recebo muito dele.

Talvez porque tenho um filho que sempre foi também um desafio para mim não numa situação tão grave mas por me transmitir a sensibilidade, a palavra certa na hora certa e de uma doçura que eu agradeço a Deus a cada momento e que eu sempre aceitei a sua diferença (no inicio foi duro).. Sempre assumi este meu filho especial que tem feito um caminho fantástico... e custa-me imenso observar  que  este meu aluno pede com o seu olhar que o entendam, que entrem no mundo dele e eu, olho ao redor e vejo muito pouco disso (porque dá trabalho, porque prejudica a turma, porque não aprende como os outros, porque não consegue controlar a agressividade (muitas vezes), porque não sabe ser contrariado pelos professores,  porque tem movimentos estranhos em contexto que supostamente deveria estar como os outros... 
Enfim, ontem ao ouvir a vontade de muita gente que ele se deveria ir embora foi difícil e não paro de pensar nisto, como DT sempre defenderei o que considero melhor para ele... estar ali e ser respeitado e acarinhado.

Questiono-me sobre onde está o - para que todos tenham vida!?? que difícil é ouvir indirectamente que os miúdos tem que ser todos iguais... que faria Jesus??? pergunto-me todos os dias na minha oração da manhã e acho que é por isso que cada gesto do (,,,,) me faz crescer...

Sentar-me ao seu lado no chão quando ele está com alguma crise ou furioso porque precisou de ser corrigido e não entendeu é um momento de eu própria tentar olhá-lo nos olhos e falar  com uma linguagem diferente e o (...) está a fazer o caminho dele e faz-me estar... ser simplesmente. Tudo isto me questiona muito sobre a exigência e o dever de estarmos de coração onde somos mais precisos. E quem somos nós para excluirmos?????? Para julgarmos... (É muito triste).

Apesar do cansaço e dos meus filhos doentes neste final de semana, agradeço ao Senhor a FORÇA para conseguir chegar a tantos lados (isto não é questão de orgulho mas de quem procura simplesmente sentido e esperança para cada gesto e para cada olhar mesmo sabendo, em consciência, que tenho muito que aprender e crescer ).

O Caminho faz-se caminhando na Entrega a um Deus que nunca nos deixa desamparados porque nos Ama,  ... A TODOS!



A medida do amor é amar sem medida. (Santo Agostinho)


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